
Renato Venâncio
Quem frequenta arquivos sabe que pesquisa custa caro. São necessárias várias horas de dedicação e deslocamentos constantes à instituição que guarda os documentos. E esse trabalho é ainda mais dificultado quando os arquivos ficam em outros países. Talvez o exemplo mais conhecido dessa restrição seja o relativo aos processos inquisitoriais. Desde que foram abertos à pesquisa e despertaram interesse dos historiadores brasileiros, a consulta a eles dependeu de viagens a Portugal e de complicadas e dispendiosas encomendas de cópias microfílmicas ou digitais.
Em fins de 2008, esse problema começou a ser resolvido graças à disponibilização progressiva da documentação inquisitorial, relativa a Portugal e demais áreas do império português, no site Torre do Tombo on-line da Direção Geral de Arquivos de Portugal. Várias preciosidades já estão disponíveis. Um exemplo é o processo ocorrido em Traíras, arcebispado da Bahia, que se iniciou em 1793 e diz muito sobre as crenças religiosas populares. Nele, João da Silva, filho de Pedro (vulgo “o Maneta”), é acusado de “desacato ao Santíssimo Sacramento”.
O site da Torre do Tombo permite a navegação pelos mais diversos documentos através dos índices temáticos: "Universo do documento", com links para mapas, selos, gravuras, partituras, etc; "Formação de Portugal", seção dividida em reconhecimento do reino, afirmação da língua e organização do território; "Sociedade e Cultura Portuguesa", que trata dos valores, religião e da repressão cultural do país lusófono; e, enfim, "Portugal e o mundo", sobre relações internacionais e representações do outro. Não podemos menosprezar a digitalização dos arquivos da Torre do Tombo, que desde a Idade Média prestou serviço como Arquivo do rei. Trata-se do início de uma revolução nos estudos sobre a Inquisição, uma vez que mais e mais pesquisadores poderão explorar um rico universo de documentação inquisitorial com acesso bastante restrito até recentemente.
Renato Venâncio é professor da Universidade Federal de Ouro Preto