
Enquanto os colegas se preparam para o vestibular, cinco estudantes do Ensino Médio da Escola Estadual Dr. Tomás Alves, no distrito de Sousas, em Campinas, participam de uma atividade complementar aos estudos. As garotas trabalham na restauração de livros, fotos e arquivos da escola, que este ano completou 91 anos. Erika Wolner, de 17 anos, Marta Barbieri, de 15, Karen Teixeira Silva, de 16, Letícia Gasparin, de 15, e Desireè de Moraes, de 17, participam desde outubro do ano passado do curso de pré-iniciação científica do Centro de Memória da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
A ideia de inscrever as estudantes na seletiva para o curso, que tem duração de um ano, partiu da professora Rosângela Cristina Gonçalves, que dá aulas de história na escola há seis anos. “Estávamos no período de férias e mandei os nomes delas porque são ótimas alunas, têm notas entre 7 e 10 em todas as disciplinas”, disse Rosângela. Para alegria da educadora, todas foram aceitas pela USP e concordaram em participar do curso. As garotas vão a São Paulo toda segunda-feira à tarde. Lá, aprendem a manusear, higienizar, acondicionar e proteger arquivos escolares. Entre os documentos da escola Dr. Tomás Alves que já recuperaram está um livro de 1918, ano da fundação da escola, usado para registrar as nomeações e licenças dos funcionários. “Limpamos as páginas e encapamos com papel especial para evitar o desgaste da capa original”, explicou Karen, que está no terceiro ano do Ensino Médio.
Segundo a pesquisadora da USP Nathalia Luque Vazquez, o curso ensina a preservar arquivos, livros, fotos e outros documentos históricos. “A ideia é aproximar os estudantes da área de pesquisa”, disse Nathalia, que acompanhará a montagem de um centro de memória da escola. Segundo Rosângela, o principal objetivo da criação desse centro de memória é a preocupação em manter a história da escola viva, como um espaço valorizado pelos funcionários, estudantes e pela comunidade. A sala já foi disponibilizada pela escola e deve ser inaugurada em novembro. “Os documentos contam a história da escola”, disse Marta, que está no segundo ano.
Além da capacitação das estudantes, o resgate da história da escola irá proporcionar o uso das informações por toda a comunidade. “Minha mãe e meu avô estudaram no Tomás Alves também e estão nos ajudando com relatos”, disse Desireè, que faz o terceiro ano. Erika, também aluna do terceiro ano, comemora o fato de ter contato com a USP, além de aprender sobre o local onde estuda. “Tomei consciência da importância da história da escola para a comunidade e para Campinas”, disse. A única ressalva que a estudante faz com relação ao programa é relacionada ao valor da bolsa-auxílio. “É insuficiente. Gastamos R$ 50,00 por dia de curso com transporte e alimentação”, disse Erika. Durante o trabalho, as estudantes pretendem captar material de ex-estudantes e moradores de Sousas e irão treinar outros alunos para fazer o mesmo trabalho. “Eu não tinha ideia de quanto os documentos da escola poderiam nos ensinar. Várias pessoas vieram nos procurar, contar histórias, mostrar fotos”, afirmou Letícia, do segundo ano.
Fernanda Nogueira de Souza da AGÊNCIA ANHANGUERA